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À MARGEM DO TEMPO - CAPÍTULOS 14 E 15

CAPÍTULO QUATORZE “ Eu não preciso passar por isso” – repetia Jorge, diante da atônita Francisca. Ela acabara de abrir as cortinas do quarto do patrão. Eram 10 horas, o sol já ia alto. Francisca não sabia se o patrão se dirigia a ela, ou se ainda estava mergulhado em sonhos. Ela tropeçou numa cadeira junto à janela e o barulho trouxe Jorge de volta ao mundo real. Ele deu um salto brusco e se sentou à cabeceira da cama. Esfregando os olhos, virou-se para Francisca e perguntou: – Onde estou? Ela não entendeu. – Em que ano nós estamos? Ela entendeu menos ainda. Jorge levantou-se e correu em direção à sacada da sala. Prédios altos, música alta, vizinhos barulhentos. E o galo? E o verde? Nada, a não ser o mundo de concreto, que encobria a visão das montanhas da Tijuca. Ele olhou para Francisca, que se mantinha calada e tentando disfarçar o seu espanto. Jorge olhou para o relógio sobre a mesinha. Dez horas e 2 minutos. Vinte e seis de dezembro de 2009. Ele acordar

À MARGEM DO TEMPO - CAPÍTULOS 11, 12 E 13

CAPÍTULO ONZE Voltemos uns dias atrás, o dia em que Jorge recebera o convite das mãos do patrão. Carolina, nesse dia, não se conteve e foi em direção ao pai, mal ele descera do carro. Ela não conseguia esconder a sua ansiedade, e com isso não encobria os seus sentimentos. O Senhor Ernesto, percebendo a agitação da filha, antecipou-se às perguntas. Abraçou-a, beijou-lhe a testa e disse: – O convite foi entregue, sem comentários, como tu me pediste. A reação dele não me surpreendeu. Eu não estranharia se ele aparecesse por aqui antes do dia marcado, por não se conter em aguardar o dia da festa. O convite fez-lhe um bem enorme. E, pelo jeito, a ti também. Carolina enrubesceu e procurou disfarçar. Não o conseguiu. Abraçou e beijou o pai, e com uns trejeitos engraçados dissipou a tensão de que era presa. O pai dirigiu-lhe uns elogios condescendentes, afagou-lhe os cabelos, enlaçou-a nos braços e conduziu-a para dentro de casa. Lá, encontraram Dona Tereza, que não compartilha

À MARGEM DO TEMPO - CAPÍTULOS 9 E 10

Capítulo NOVE As duas semanas seguintes foram de angústia e sofrimento para Jorge. Ele não conseguia tirar Carolina do pensamento. Mas, é bom que se diga que nem o desejaria. Jorge sofria a dor dos amantes. A saudade era mais compensação do que castigo. Se não fosse a saudade que sentia, ele não teria Carolina ao seu lado, como parecia ter, graças ao sentimento que alimentava na alma. Jorge trazia Carolina dentro do peito, num sentimento contido que, a cada instante, parecia querer romper todas as barreiras do bom senso, e se transformar num berro sofrido de quem já não suporta mais a dor. Ele combatia a dor com o trabalho. Contra a solidão da noite, protegia-se com estudos e pesquisas, devorando, até o início da madrugada, os livros emprestados pelo patrão. Os seus pensamentos, a qualquer distração, batiam asas em direção a Carolina. Voavam no céu da contemplação, com o azul-celeste de pano de fundo, em meio a sonhos e devaneios que só mesmo os jovens apaixona