À MARGEM DO TEMPO - CAPÍTULOS 5 E 6
Capítulo CINCO
Aquela manhã, Jorge viveu-a sob forte emoção. Ele assumira a
loja, como quem recebe uma honraria militar, uma comenda, um
ministério.
Ele mal podia acreditar que, no seu segundo dia no trabalho, já
lhe seria confiada tamanha distinção. A sua cabeça girava em torno
das recomendações do patrão, que eram tantas que memorizá-las se
tornava uma tarefa estafante.
A realidade é que ele memorizou-as com uma precisão tal que, nem
mesmo o próprio instrutor seria capaz de repeti-las com a mesma
exatidão.
Jorge, enquanto cumpria as ordens, aproveitava para ir estudando
cada peça exposta, consultando, vez por outra, um catálogo que lhe
fora confiado pelo patrão. Nele, constava o histórico dos móveis,
com comentários sobre o valor e a melhor utilização de cada peça.
As horas foram aceleradas pelo relógio do encantamento, no qual o
tempo passa sem que se perceba. E assim o dia se foi.
Se para Jorge o tempo voou, para Davi ele não chegou a decolar.
Num canto da loja, calado e cabisbaixo, ele era o sinônimo do
desalento, do desânimo, do enfado. Nada à sua volta conseguia
despertar o seu interesse. Nos móveis, ele não via nenhuma beleza
ou valor.
Sentiu-se triste, preso à loja, limpando e arrumando as peças, e
tentando descobrir seus valores como peças de arte.
Havia outro motivo que influía no seu estado depressivo, o
encontro repentino com a esposa do patrão. Ele se sentira como se
pego em flagrante, num ato de contravenção. E tudo por causa
daquele retrato na parede. De repente, ela surge à sua frente, a
mesma exuberância no olhar e as mesmas atraentes formas. E tudo a
confundir-lhe os pensamentos e a embaraçar os sentidos.
Os seus pensamentos pareciam ter adquirido vida, e num espaço
curto demais para que pudesse voltar à realidade. E, com isso, ele
se deixou ficar numa zona intermediária, distante da realidade que
lhe era apresentada com muito mais atrativos e belezas do que o
quadro retratava.
Davi não gostou daquele lugar, nem do trabalho a executar. O
Senhor Ernesto era a materialização desses desgostos e, sem nenhum
outro motivo, recebia gratuitamente a sua antipatia.
Ele simpatizou mesmo foi com Dona Tereza, e pensando bem, mais do
que simplesmente uma simpatia, ele sentiu atração. E isto o
incomodava e causou-lhe a depressão que captamos em sua imagem
desolada, sentado num canto da loja.
Jorge bem que tentou, e por mais de uma vez, puxar conversa com o
amigo. Tudo em vão. Davi respondia por monossílabos e sons
guturais, que mais se assemelhavam a gemidos ou grunhidos, que logo
desestimulavam novas incursões.
Davi não via o tempo passar. As horas arrastavam-se como pesados
fardos, deixando profundos sulcos no mais íntimo do seu ser. Aos
poucos, uma decisão começou a criar forma em sua mente, e acabou
concreta e irrevogável. Assinou-a em sua consciência com inabalável
convicção.
Aquele seria o seu último dia de trabalho. Ali não voltaria, nem
por todo o ouro do mundo. Exagero que lhe permitiremos, considerando
o seu estado irritadiço e depressivo.
Enquanto o amigo assinava na mente o seu pedido de demissão,
Jorge, menos formal, mas não menos convicto, promovia-se, sem pena,
nem tinta, a gerente da loja.
Em ambos, o formalismo deu lugar à fantasia. Reconheçamos, no
entanto, que tinham o seu conteúdo, os sonhos e as desilusões dos
rapazes.
A tentativa de interpretar o que se passava na mente de cada um,
em nada ajudaria o melhor entendimento dos fatos, nem o que estava
por vir mais adiante. Por isso, o silêncio é cabível e exato, para
aquele momento relatado.
Poucos foram os clientes que visitaram a loja, naquela manhã. A
todos, Jorge atendeu com esmero e distinção, tentando demonstrar
uma segurança que nem ele, nem a clientela, se deram por
convencidos.
A inexperiência, porém, era suprida pela simpatia e respeitosa
cordialidade, que acabaram provocando excelente impressão nos
visitantes.
A todos, ele apresentou com relativa habilidade os móveis em
exposição, relacionando-os aos ambientes para onde se destinavam. A
sua atuação, para um principiante, foi mais do que convincente.
Este foi o julgamento que ele se dignou a fazer, no tribunal da sua
vaidade, em que reinava soberano, com a dignidade de um sábio
magistrado. Ali, não se admitia promotor, nem advogado de acusação,
e a sua palavra era lei.
Entre um freguês e outro, Jorge recordava os ensinamentos do
patrão. Pensando no Senhor Ernesto, não poderia deixar de relembrar
o olhar amistoso que lhe endereçara D. Tereza, no momento em que
eram apresentados. Talvez mais do que somente amistoso, certamente
bem mais, mas ele não julgava digno fazer tais conjecturas sobre a
mulher do patrão.
Os pensamentos, em certas horas, traem a razão com uma
infidelidade inconsequente, talvez porque confiem que ninguém sabe,
ouve ou vê. O pensamento é o único segredo verdadeiro, por
pertencer a um só e ser guardado para sempre, sem o risco da
revelação.
Com Jorge não foi diferente. O pensamento tocava em D. Tereza,
admirando-a, recordando-a, desejando-a. A razão negava tudo e
contava com a cumplicidade das suas expressões que confirmavam a
consciência límpida e pura.
A forma sedutora do olhar e do sorriso de D. Tereza ainda
permanecia gravada na memória, e disto ele não conseguia se livrar.
Pouco depois do meio-dia, o patrão retornou, com um ar de
indisfarçável satisfação, confirmando o sucesso da empreitada
matinal. Do que se tratava, Jorge não fazia ideia, mas suas
consequências viriam a ser muito benéficas para a sua vida
profissional.
Depois de fazer um relato minucioso de tudo que se passara durante
a sua ausência, Jorge recebeu do patrão uma sucessão de elogios e
de prévias otimistas sobre a sua carreira e o seu futuro como
negociante de antiguidades.
O seu entusiasmo só não foi mais expansivo, devido à
formalização, naquele momento, da desistência do amigo Davi de
prosseguir trabalhando na loja.
O Senhor Ernesto levou um choque, por não esperar aquela decisão
brusca e precipitada, e quanto mais Davi tentava justificar o seu
ato, menos clara ficava a sua atitude.
Jorge não esperava, mas não se surpreendeu com a decisão do
amigo. Desde os primeiros momentos do dia, percebeu que não houvera
qualquer identificação de Davi com o trabalho. Fora frio na
recepção, ausente na apresentação, coerente na demissão.
Se o Senhor Ernesto lastimava a decisão do filho do seu grande
amigo, também não conseguia reprimir certo alívio, por ter partido
do jovem a iniciativa de tomar aquela decisão. Assim, poupava-se do
dissabor de ter de vir a fazê-lo, mais tarde, caso se confirmasse a
incompatibilidade do jovem com o trabalho.
O rapaz não apresentava a menor vocação para o comércio, e
isso ele pôde perceber logo nos primeiros instantes de conversa. Ele
também não se sentira atraído pelos objetos de arte, o que unia o
inútil ao desagradável.
Fez-se a justiça, sem ressentimentos, nem arranhões. Mantinha-se
uma velha e sincera amizade e ganhava-se um promissor discípulo, na
pessoa de Jorge. Por uma fração de tempo, ele temeu por aquela
suposição, mas, ao voltar os seus olhos para Jorge e perceber o seu
semblante firme e sereno, ele se tranquilizou e não teve mais
dúvidas quanto à exatidão do seu julgamento.
O retorno para casa foi triste para os dois amigos. Davi procurava
justificar-se com Jorge, fabricando uma série de motivos que mal
eram produzidos logo saíam de linha, tal a inconsistência dos
argumentos. A verdade, aos poucos, foi surgindo, menos pelo que foi
dito, mas muito mais pelo que permaneceu em segredo.
Davi fez questão de manter o seu compromisso de pagar o tílburi
do amigo, de ida e volta ao trabalho, até que ele viesse a receber o
seu primeiro salário. Jorge ainda esboçou um protesto, mas não
conseguiu demover o amigo desta decisão, e nem mesmo gostaria de
tê-lo feito. A distância entre o quarto onde morava e a loja não
era curta, para ser percorrida a pé, e o carro custaria uns bons
trocados, de que ele não dispunha no momento.
E no meio dessa reflexão surgiu uma decisão. Ele procuraria
outro local para morar, mais próximo do trabalho. No dia seguinte,
conversaria com o Senhor Ernesto, em quem esperava encontrar apoio, e
mais do que isso, o próprio lugar para morar.
A noite encontrou Jorge cansado no corpo, mas com uma sublime
leveza na alma. Cansado, fechou os olhos. Antes de adormecer, a
lembrança de certo olhar trouxe-lhe à mente a derradeira tentação
do dia. Uns lábios úmidos sorriram para ele e o olhar transformou o
sorriso em promessas.
Mais, ele não pensou, simplesmente adormeceu. Sonhou, e tantos
foram os sonhos, que se confundiam com a realidade. Realidade, mas
que realidade?
Jorge não conseguia mais separar os sonhos da realidade. Mas,
preservemos, pelo menos por esta noite, os seus sonhos da nossa
curiosidade. A privacidade, neste caso, é indispensável. É preciso
manter-se os mais íntimos sentimentos do jovem, bem distantes da
indiscrição alheia.
Sabemos guardar segredos, mas é melhor não arriscar. Que fique o
jovem com os seus sonhos, e nós com a curiosidade de quem segue os
fatos da vida do rapaz. Um dia, se ele assim o quiser, haverá de
revelá-los. Por enquanto, não vamos precipitar os fatos. Uma coisa
de cada vez.
Capítulo SEIS
O tempo passava, Jorge ia ficando para trás. Os dias se sucediam,
a outra vida de Jorge permanecia em 1869. Aquela manhã misteriosa,
quando passado e presente se encontraram, já havia ficado meio
esquecida.
Jorge dedicava-se ao trabalho com crescente entusiasmo, e já nem
tinha mais tempo para suas costumeiras reflexões.
Toda manhã, mal abria os olhos, pulava da cama, mastigava alguma
coisa e partia para o trabalho.
Graças à gentileza do amigo, encontrava em frente à estalagem o
carro à sua espera.
À tarde, ao sair do trabalho, lá estava o mesmo condutor, sempre
gentil e solícito, aguardando-o, para conduzi-lo de volta ao velho
quarto aonde chegava exausto, mas feliz.
As lembranças de outras eras já não tomavam mais do que alguns
poucos segundos de sua noite. Menos pelo interesse em prosseguir
buscando a verdade do que pelo cansaço e pelo sono que o adormeciam,
mal começava com suas divagações.
Justiça se faça ao dedicado empregado da loja de móveis, o seu
progresso no trabalho e o conceito que gozava junto ao patrão
seguiam a uma velocidade bem superior ao próprio tempo.
Em poucos dias já conseguira do Senhor Ernesto a cessão de um
pequeno quarto, nos fundos da loja, que era usado para guardar papéis
e livros velhos. A sua mudança ficou dependendo somente da arrumação
de uma cama e de um pequeno armário, que o patrão se comprometera a
instalar nos aposentos no próximo final de semana.
Jorge soubera, pelo próprio patrão, que a ideia do
aproveitamento daquele quarto para alojá-lo partira de D. Tereza.
Segundo o Senhor Ernesto, ela ficara muito preocupada assim que
ouvira das suas dificuldades para se deslocar do Andaraí para o
Centro, dependendo de favores do amigo.
O interesse de D. Tereza não lhe causou surpresa, nem
desconfianças por parte do patrão. O mesmo não se pode dizer sobre
as preocupações. Estas não foram poucas, nem pequenas.
Jorge pressentira, desde o início, que aquele olhar de D. Tereza
prometia futuras consequências em sua vida. Ele só esperava
manter-se distante dela, cuja imagem atraente e sedutora, não poucas
vezes, acompanhava-o em suas fantasias de jovem.
A última coisa que ele desejava era provocar encrencas e atingir
o patrão com atitudes que envolvessem sua esposa.
A melhor forma de não cometer qualquer deslize seria evitar uma
aproximação, nas poucas vezes que ela visitasse a loja.
A mesma preocupação não tinha o patrão que falava da mulher
com Jorge, elogiando-a com orgulho e com exagerada insistência.
Nessas conversas, ele ficou sabendo que quando mencionava o seu
nome e o seu progresso no trabalho, D. Tereza reagia com entusiasmo,
estimulando o marido a dar-lhe melhores oportunidades para crescer
profissionalmente. Ela sugeria que o Senhor Ernesto passasse para ele
mais conhecimentos sobre o comércio de móveis antigos e oferecesse
uma remuneração mais justa, segundo os seus próprios critérios.
A tudo isso, Jorge respondia com mais dedicação ao trabalho e
maior respeito ao patrão. Este, obediente aos apelos da mulher,
entregou-se à missão de ensinar-lhe minuciosamente todos os
mistérios do comércio do mobiliário de época.
Jorge não só aprendia o que lhe era ensinado, mas ainda
enriquecia cada aula, com sábias opiniões. O Senhor Ernesto
admirava-se da inteligência e da cultura do aprendiz. O próprio
Jorge, em alguns momentos, também se surpreendia com os seus
conhecimentos.
Esses sentimentos, no entanto, eram passageiros, não conseguindo
desviar a sua atenção dos ensinamentos do mestre. Muito mais do que
somente transmitir conhecimentos, o Senhor Ernesto dava o seu
testemunho sobre tudo aquilo do que falava.
Os móveis da loja eram originários de diversos países da
Europa. Eles haviam sido adquiridos pelo patrão em viagens aos
países de origem, Inglaterra, França, Espanha e naturalmente
Portugal.
O Senhor Ernesto visitava esses países anualmente, em busca de
relíquias mobiliárias que, quando expostas na loja, conquistavam
admiradores e compradores.
Jorge ouvia as narrativas do patrão, inteiramente deslumbrado com
as explicações sobre as negociações no exterior. As viagens por
terras distantes eram acompanhadas como se ele estivesse junto do
patrão, não ouvindo, mas participando de cada etapa das
negociações.
Todas essas imagens se passavam na sua mente, não somente pelas
descrições do mestre, mas por um despertar interior, como se ele a
tudo já conhecesse pessoalmente.
Assim, os dias se passavam, com muito estudo e trabalho, enquanto
ele aguardava ansiosamente a sua mudança para o quarto no fundo da
loja.
Sem tempo para mais nada além do trabalho, Jorge passava os dias
a observar as peças expostas na loja e a compará-las com suas
anotações. Elas eram feitas enquanto ouvia o Senhor Ernesto falar
do estilo, da origem e da qualidade dos móveis, cada qual escolhido
a dedo junto aos fornecedores europeus. Melhor escola de arte, Jorge
jamais encontraria, mestre mais dedicado, impossível imaginar.
Por duas ou três vezes, nesse meio-tempo, D. Tereza aparecera na
loja, alegando razões em que nem ela mesma acreditava. Jorge
conseguira, em todas essas ocasiões, alegar desculpas para se
ausentar. Apesar dessas repetidas ausências, nem o Senhor Ernesto
demonstrava surpresa, nem D. Tereza deixava transparecer todo o seu
desagrado.
Cada qual ao seu modo, eles procuravam justificar as desculpas
descabidas apresentadas por Jorge, oferecendo-lhe o mesmo perdão,
ainda que fossem bem distintos os sentimentos que lhe davam origem.
Jorge aguardava ansiosamente o dia em que passaria a ocupar o
quarto nos fundos da loja, e não queria correr qualquer risco que
pudesse cancelar a gentil oferta do patrão. A sua intuição lhe
dizia que a presença de D. Tereza era uma permanente ameaça à sua
relação harmônica com o Senhor Ernesto. E esse risco ele não
queria correr, especialmente antes da mudança.
Jorge acreditava que a sua mudança para aquele quarto, dentro da
loja, seria uma espécie de tomada de posse do terreno, um prenúncio
de futura sociedade. Ele sonhava com essa conquista social, o seu
grande salto para o futuro.
Naquele momento, ele não pôde conter a comparação desse futuro
tão distante daquele outro, do qual se apartara há alguns 15 dias
atrás. Era esse o tempo transcorrido, desde aquela manhã, quando
ele saltou da cama e se deu conta de ter acordado 140 anos antes da
noite em que fora dormir.
Até então, ele ainda não entendera o que havia acontecido. Ele
aceitara o mistério, como se recebe a profecia de uma cigana. Nem
incrédulo, nem crente. Ele admitia que, certas verdades existem, e
que os nossos vãos conhecimentos não as explicam. A sua fé nessas
verdades, porém, não tinha a menor consistência, por se julgar um
principiante nesses mistérios que fogem da razão humana.
Uma névoa encobria a sua visão lógica, impedindo-o de
distinguir com nitidez a diferença dos tempos nos quais estava
envolvido. Quem sabe, a diferença não estaria nos seus sentidos
divididos entre duas épocas, num espaço de mais de um século!
Ele conseguia lembrar-se de fatos, mas não era capaz de ligá-los
e decifrá-los, até chegar a uma conexão perfeita entre o passado e
o presente. Sentia-se como se fossem dois Jorge, duas mentes, dois
sentimentos, duas vontades, mas um só espírito.
Comparou a sua situação a xifópagos espirituais. Achou
grosseira, a comparação. Preferiu não usar imagens, pois delas não
precisava. Deixou de lado a ideia da xifopagia e voltou ao passado.
Ou seria melhor considerá-lo o seu futuro?
Sentiu-se, então, cansado de tantas dúvidas. Afinal, elas
obrigavam-no a viajar por mais de um século, sempre que pensava no
assunto. Ele decidiu optar por distâncias menores. Pôs-se de volta
para casa, a caminho do Andaraí.
O expediente estava encerrado, era hora de fechar a loja, e pegar
o tílburi que todo dia ficava à sua espera na saída da loja.
Deixou-se levar pelo trote do cavalo, pelo balanço do carro e pelo
embalo dos sonhos.
Sonhou de olhos abertos. Nada de sonhos distantes e confusos, para
não cansá-lo, nem afastá-lo da realidade. Ele sonhava sonhos
reais, ou que pareciam reais.
No dia seguinte, Jorge estaria mudando-se do Andaraí, e
abandonando aquele quarto que se tornara um misto de sarcófago e
maternidade para a sua alma. Ali, ele morrera para um tempo e
renascera para outro.
Agradeceria, pela manhã, o apoio do amigo Davi, tanto moral, como
financeiro. Dispensaria o transporte diário, um investimento de Davi
em nome da amizade que tanto os unia. Levaria o amigo para um almoço,
em retribuição por toda a ajuda que lhe dera. Faria um brinde à
eterna amizade, e seguiria em frente, ou para trás, ele nem sabia
bem como definir a sua investida no tempo.
O salário de um mês, adiantado pelo patrão, para correr com as
despesas da mudança, era o responsável pela nobreza das fantasias
de Jorge. Não sendo uma fortuna, representava a sonhada riqueza para
quem descobre o mapa do tesouro.
E entremeando sonhos e realidade, ao balanço acalentador do
carro, Jorge adormeceu de fato, e então os sonhos cessaram. Deixemos
que ele descanse dos seus sonhos e fantasias, enquanto o carro não
chega à estalagem no Andaraí.
Aguardemos os
acontecimentos que estão por vir, repletos de surpresas e emoções.
Não antecipo os fatos, para não quebrar o encanto da surpresa, nem
a magia do amor. Eu já ia retirar a última frase, por achá-la
demais. E se não a retiro é em respeito aos meus curiosos leitores,
que os sei tantos por esse mundo afora. Que ela foi além do que
seria prudente, eu não posso negar. Mas, quem espera prudência,
quando se fala de amor? Permanece a última frase, e com ela toda a
expectativa diante dos próximos acontecimentos.
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